Aline Macedo - Cerca de um mês depois de iniciadas as aulas do curso
“Ambiente Saudável É Sem Homofobia”, promovido pela Superintendência de
Educação Ambiental na sede da Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de
Janeiro (SEA), os alunos perceberam que o
conceito de ambiente trabalhado em aula é diferente do que estão habituados.
Articulando gestão ambiental e questões de sexualidade e identidade, o curso é,
nas palavras da estudante de biologia Milena Guedes, “muito inovador e ousado”.
– Estamos construindo juntos esse novo conceito – comemorou
com a turma a instrutora Diva Pereira, co-responsável pelo segundo módulo,
Mercado, Comercialização e Sustentabilidade.
A partir de uma visão mais ampla sobre o meio
ambiente, na qual questões relativas ao ser humano e ao exercício da cidadania
são parte fundamental, alunos e instrutores vêm debatendo as várias faces do
desrespeito à diversidade.
Para Ana Paraense, instrutora do segundo módulo,
incluir a discussão sobre hábitos de consumo, economia solidária e comércio
justo é, também, uma maneira de desenvolver entre os alunos um olhar estratégico
que os ajude a fazer a diferença dentro da cadeia produtiva.
– Uma face muito cruel da exclusão não é a exclusão
econômica? Eu fico imaginando que alguém que é excluído no sentido político e
social da cidadania também tenda a ter dificuldade, por exemplo, de ter
trabalho. Como a gente pode, estrategicamente, desconstruir essa exclusão? –,
questionou Paraense.
Lixo no lixo?
Expondo as características e contradições do atual
modelo de produção e consumo, o curso “Ambiente Saudável É Sem Homofobia”
propõe uma nova relação com os produtos. Além de estimular a reflexão sobre
necessidades reais ou inventadas, o conhecimento sobre o ciclo de vida dos
materiais faz com que o lixo, por exemplo, ganhe um novo significado: em vez de
ser o resto de algo que já foi útil, ele passa a ser visto como matéria-prima
fora de lugar.
Para auxiliar a materialização desses conceitos, as
oficinas práticas ensinam os alunos a transformar o velho em novo. As
oficineiras Maria Ferreira e Maria Cristina Pacheco, artesãs especializadas no reaproveitamento
de materiais, ressaltam o diferencial dos objetos que produzem. Segundo elas, o
consumidor percebe o valor agregado de um produto que trata o meio ambiente com
respeito. E, melhor: volta para comprar mais.
Consumismo e preconceito
O professor de literatura Daniel de Oliveira declarou
que o curso já causou impacto em sua vida. Assumindo que agia de maneira
consumista, ele agora desacelerou o seu ritmo e pensa com mais cuidado antes de
efetuar uma compra.
Por outro lado, a técnica em segurança do trabalho Daniele
Peçanha já estava familiarizada com os temas ambientais antes de começar o
curso. Para ela, a novidade está na articulação das questões de direitos
humanos e sexualidade. Daniele disse que marcará presença na Parada de
Orgulho LGBT pela primeira vez, junto com a ala do programa Ambiente em Ação,
da SEAM/RJ.
– Ainda falta muita reflexão da população, não só com
relação à homofobia, mas preconceitos em geral –, diz.
Dividido em três módulos teóricos (Introdução às
questões ambientais; Produto, mercado, comercialização e sustentabilidade; e
Corpo, gênero e sexualidade) e duas oficinas práticas (Customização de roupas e
adereços e Reaproveitamento e reciclagem de resíduos sólidos), esta é a
primeira edição do curso Ambiente Saudável É Sem Homofobia. Quatro outros Centros
de Referência de Cidadania LGBT/CR.-LDBT receberão as aulas nos próximos dois
anos: Rio de Janeiro/Central, Niterói, Caxias e Nova Friburgo.
– Todos nós temos o direito de participar, todos
temos o direito a um ambiente saudável, sem homofobia, equilibrado, e que
proporcione um futuro melhor –, concluiu a instrutora Diva Pereira.
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